sábado, 17 de agosto de 2013

As rosas caipiras




Havia uma época que as casas tinham varandas, com jardins e lindas rosas "caipiras" que duravam tão pouco no pé, as pétalas caiam como se elas já tivessem cumprido a sua curta missão: perfumar e alegrar o coração dos donos da casa. Sim, pois nessa época, as pessoas olhavam para o jardim, olhavam para as rosas. Olhavam para as outras pessoas. Vizinho era como parente, a gente sabia até o nome. 
Nas noites calorosas, se colocavam cadeiras pra conversar sobre a vida e olhar as estrelas. De manhã, havia cheirinho de café, pão quentinho, do tipo francês mesmo, não era essa onda de comer pão 7 grãos ou integral. 
Havia quintais e as ruas não eram perigosas, as crianças brincavam de queimada, pique-bandeira, chicotinho queimado e elefantinho colorido. Aliás as crianças brincavam!
O tempo demorava pra passar. 
Esse foi o tempo da minha infância. me lembro de que quando íamos ao centro da cidade com a vovó, ela nos obrigava a usar sombrinha, por conta do sol - Ah! Eu morria de vergonha, mas na volta era muito bom, porque logo estávamos cansadas e a vovó pagava para o charreteiro trazer a gente pra casa, era táxi de charrete. Eu ria muito, porque o cavalo, ia soltando aquelas pelotas de cocô pelas ruas e aquele cheiro fazia com que a gente,  cobrisse o nariz o percurso inteiro, mesmo a minha avó ficando brava.
Quando eu me refiro "a gente", estou me remetendo a uma pessoa especial que viveu comigo essas experiências, a minha tia mais nova: a Juliana. Era ela que comia a minha sopa de mato, que cortava as formigas ao meio e que levava as surras por mim. pois a vovó era muito brava, mas eu nunca apanhava. Eu sinto pela nossa separação, as pessoas que antes foram felizes, hoje nem se conversam mais, pela falta de tempo, por dinheiro, por brigas das quais elas nem se lembram o motivo. Ah! que saudades...
Na casa da vovó também tinha uma grande mangueira, tinha também uma jabuticabeira, que era das abelhas, pois ficava rodeada delas. 
Mas o que eu mais gostava era do galinheiro, eu passava horas a admirar as galinhas. Adorava ver, quando elas botavam os ovos. E como eram bobinhas, eu pegava um mato e corria pelo galinheiro, as bobinhas, corriam atrás. Também eram medrosas as galinhas da minha avó e, quando elas ficavam doentes, eu ajudava a vovó a dar xaropes e antibióticos de gente pra elas. O legal é que elas sempre se curavam.
Naquela época, havia rios com cascudos em suas águas barrentas e no meu aquário também, o nome dele era Cascudeca, um cascudo meio deprê, que sempre estava chupando uma pedra. Os outros peixes iam e vinham, mas o Cascudeca, o meu preferido, sempre estava de boca no vidro. Ele morreu bem velhinho, e depois dele, o aquário foi eliminado - pois nunca vi dar tanto trabalho!
Havia também na minha rua, aquele vira-lata que tem casa, mas é de todo mudo, e o nome dele era Rabito, o cachorrinho era companheiro de todos e já era pai de uma centena de filhotes no bairro, nos tivemos uma descendente dele, era a Lilica, puxou a cara do pai, mas nunca quis se casar e nos dar filhotinhos. Ah! Saudades da Lilica. 
Havia a louca que enchia a rua de delírios e risos e o bêbado que todo mundo tinha medo, ah! eu tinha pavor, eu exalava o cheiro do medo quando ele passava perto de mim, e ele sabia disso, pois sempre fazia uma gracinha, para que eu saisse correndo.
Eu sei que o meu saudosismo é demasiado, mas sinto tanta saudades dessa época, pois havia tantos e tantos, que me dá um aperto de nostalgia. Mas acho que ela é construtiva, pois depois de rememorar estas lembranças, vejo que tive uma infância feliz.

2 comentários:

  1. Que lindo, Tati !!!
    Amei.


    Abraços,

    Luis

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  2. Obrigada, seja sempre bem vindo e a propósito fiquei curiosa, quem não te pagou? kkkk
    abraços Tati

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