quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O coelho na lua

A minha mãe hoje me perguntou como andava o blog, relatei a ela, que há dias não escrevia nada, mas me veio a cabeça (e associado a insônia) uma história muito bela, que gostaria de compartilhar, já que acredito que as histórias alimentam... não só os blogs, mas principalmente as almas.

Dizem que se você observar a lua, quando ela está muito cheia e brilhante, consegue ver um vulto, com orelhas compridas, com corpo de coelho, dizem que tem até aquele rabinho de pompom.
A explicação pra isso vem de uma história ...

Há muito tempo atrás, em uma floresta de diversas árvores, flores e animais, vivia quatro amigos inseparáveis: o macaco, a lontra, o elefante e o coelho. Eles se adoravam, mas o mais querido de todos era o coelho. De fato, o coelho era muito especial, era sábio, generoso e puro. Mas sobretudo tinha um coração de ouro. muitas vezes via-se o coelho sentado no meio de uma clareira rodeado de animais e ele lhes contava histórias maravilhosas. Falava do poder de cura das plantas, do poder e da bondade e de como elas podem mudar o mundo. Falava das estrelas, dos planetas e da magia de estar vivo.
Até os animais mais ferozes vinham a essas reuniões. Vinha tigre, crocodilo, lobo... E o coelho inspirava a todos. Tanto era assim, que seus melhores amigos começaram a mudar. O macaco, tão levado e malcriado, que estava sempre planejando travessuras e pregando peças em todo mundo, passou a respeitar e a ajudar os outros. A lontra era tão gananciosa, queria os peixes só pra ela. Pois ela passou a dividir o que era seu com os outros. E o elefante era tão reservado, que nunca dizia aos outros animais onde ficavam as fontes de água, passou a compartilhar também o que sabia. O coelho tornou-se mais bondoso ainda e a bondade do seu coração passou a brilhar mais ainda.
Um dia o coelho teve uma ideia maravilhosa, chamou os amigos e disse:
- Temos muito alimento, muita água, muito amor, amizade, por que não oferecemos o que temos ao mundo a nossa volta? Há tantos pedintes, tantas crianças passando fome, vamos oferecer um pouco de nós mesmos.
Bem no momento em que o coelho estava falando, o grande espírito celestial passou e ouviu as palavras. Mal conseguiu acreditar.
E o coelho continuou: - vejam amigos, vejam a lua com seu brilho, lançando raios prateados, através da escuridão da noite, podemos fazer o mesmo com o nosso amor. Podemos transformar tristeza e aflição. Vamos dar felicidade a quem entrar na floresta amanhã.
Os outros adoraram a ideia. E naquela noite, sentados embaixo de uma árvore, à luz da lua, os quatro animais faziam planos para o dia seguinte.
A lontra prometeu que daria os peixes que conseguisse pescar. O macaco prometeu as bananas e mangas maduras que conseguisse colher e o elefante prometeu que daria água da fonte que conseguisse descobrir. E assim, eles adormeceram. Mas o coelho não conseguia dormir, pois não parava de pensar no que poderia dar.
- meu único alimento são as ervas verdes, dificilmente alguém gosta disso. Não tenho nada pra dar aos outros. E passou a noite toda pensando no que poderia dar, até que uma coisa horrível lhe veio a cabeça, lembrou-se de que gente adora comer carne de coelho. Respirou fundo e prometeu dar-se a si mesmo. E assim adormeceu.
O ser celestial que tudo ouvira, escutou aquela promessa admirável e resolveu descer a Terra, disfarçado de pedinte para por o coelho à prova. Achava inacreditável que um simples coelho fosse capaz de tão maravilhoso desprendimento.
No dia seguinte, os animais ouviram um chamado: - me ajudem por favor, me perdi na floresta, tenho fome e sede. Ao ouvir, os amigos correram até o pedinte e na mesma hora, o macaco pulou na mangueira, trouxe um monte de mangas suculentas e colocou diante do homem. A lontra mergulhou no rio e pescou muitos peixes gorduchos e trouxe -os para o homem. O elefante correu até uma fonte, sugou um monte de água e trouxe para o homem beber e se lavar. O coelho se pos na frente do homem e disse: - acenda uma fogueira para eu pular dentro dela e você poderá comer a minha carne.
O ser celestial, disfarçado de pedinte ficou admirado com tanta coragem, estalou os dedos e fez um som estranho e bem ali, na sua frente surgiu uma fogueira que crepitava. O coelho sem pensar duas vezes, pulou dentro do fogo, mas nem um pelo dele se chamuscou, nem um centímetro de seu corpo queimou, pois no mesmo instante o ser celestial colocou-o na palma de sua mão e disse:
- nunca vi tanta coragem nesta Terra, seu desprendimento precisa ser contado ao mundo todo. Vou colocá-lo na lua, meu caro coelhinho, para que todos aprendam, para que todos lembrem. Você sempre aparecerá na lua cheia, sua bondade e amor brilharão com o luar prateado através de todo o imenso mundo. E foi com essas palavras que o ser celestial ergueu o coelho até o céu e colocou na lua, onde ele vive até hoje.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

fragmentos II


Rilke escreveu que o amor e a amizade existem para propiciar oportunidades para a solidão.
Ela sempre foi uma romantica e, sempre imaginou que a sua vida viria a ser um roteiro de cinema, a cada namoro, a cada conquista, o sentimento enfraquecia, mas ela não queria deixar de acreditar no que o mundo propaga. No que a voz de sua tia velha sempre lhe dizia: para toda panela há uma tampa. Sempre achou meio estranho essa comparação. Mas imaginava-se uma panela brilhante, ofuscante ainda sem a tampa. Aliás muitas tampas por ali passaram, mas algumas grandes, outras velhas ou pequenas. E quando uma tampa parecia se encaixar... logo percebia-se que não era daquela panela. Aquilo tudo era muito engraçado, mas entristecia a tal mulher. E o sentimento enfraquecia. Fez tanto pelo amor que havia se cansado. Sabia que existia outras formas de amar, mas tudo ainda era muito distante para ela. No fundo o que qualquer mulher deseja seja ela  qual classe social e economica pertença é alguém pra amar e também desejar a reciprocidade. As que proclamam aos quatro ventos que não querem ter filhos, são talvez as que mais desejam que os seios venham alimentar um pedaço de você em você mesma. Mas com o tempo, o sentimento enfraquece, a libido, a sedução dá margem a uma gaveta cheia de soutiens beges e calcinhas grandes de algodão. No fundo a cada escovada de dente que se faz antes de ir pra cama, é também um pedido ao espelho, que o tempo seja generoso, que segure mais as rugas, os cabelos brancos e as linhas mais acentuadas a se formar no rosto. Mas o sentimento enfraquece.