terça-feira, 18 de setembro de 2012

fragmentos


 
Hoje a garota tentou pela última vez, ficou sentada esperando ele passar e mais uma vez tentou falar, rememorar o passado, mas não na tentativa de voltar, mas de limpar com água limpa e cristalina os últimos pingos de sujeira que insistem em grudar no seu mais predileto casaco. Como sempre ele foi bruto, ríspido, desgradável ao ponto de deixar nela a mesma marca: a do arrependimento. Arrepende-se de tudo e principalmente por esperar uma conversa que nunca acontecerá, uma limpeza que nunca a higienizará. Pensa no tempo desperdiçado, nas chances sem muitas expectativas. Volta pisando leve, quase chorando, pega a bicicleta e percorre as ruas, já com lágrimas nos olhos. Vive só, apenas um gato vira lata a faz companhia. Dorme sozinha e seu útero em desuso dói. Até quando comprará livros de auto ajuda? Até quando se olhará no espelho e fará consigo aquele breve diálogo.  Até quando se entupirá de remedios? Até quando viverá pra ver o mundo apodrecer de mesquinhez.

Só um minutinho...

Quando a vovó acordou pela manhã, ouviu batidas na porta, sabe quem era? Era o Senhor Esqueleto, que ajeitou o chapeu e disse que estava na hora da vovó ir embora com ele.
- só um minutinho, disse a vovó, antes eu tenho que varrer 1 casa.
O senhor Esqueleto sentou, afinal, tinha tempo... 1 casa varrida, vamos?
- só um minutinho, disse a vovó, tenho que ferver 2 bules de chá.
O senhor Esqueleto suspirou e esperar mais um pouquinho não faria mal, 2 bules de chá fervido, vamos?
- só um minutinho Senhor Esqueleto, tenho que fazer 3 tortas.
o senhor Esqueleto revirou os olhos, ele precisava ter muita paciência mesmo, 3 tortas feitas, vamos?
- só um minutinho, tenho que fatiar 4 frutas.
O Senhor Esqueleto franziu a testa, estava demorando demais da conta, mais do que ele imaginava, 4 frutas fatiadas, podemos ir agora???
- só um minutinho Senhor Esqueleto, agora tenho que fazer 5 queijos.
O Senhor Esqueleto batia com os dedos na mesa, isso já estava passando dos limites! 5 queijos prontos, agora vamos?
- só um minutinho Senhor esqueleto, agora preciso fazer 6 panelas de comida.
O Senhor esqueleto levantou os braços e sacudiu as mãos, o que mais ele podia fazer, 6 panelas de comida feita, deu o braço para a vovò e disse: vamos?
- Só um minutinho Senhor Esqueleto, agora eu tenho que plantar 7 mudinhas de manjericão.
O Senhor esqueleto, sacudiu a cabeça, já estava ficando tarde! plantadas as mudinhas, vamos?
- só um minutinho Senhor Esqueleto, eu já vou, mas antes tenho que arrumar 8 pratos de comida na mesa.
Chega! O Senhor Esqueleto já não aguentava mais, 8 pratos de comida prontos! agora vamos!
Olha só Senhor esqueleto, ali, vem meus netos!
O senhor Esqueleto respirou fundo e contou, 1,2,3,4,5,6,7,8...9
9 netos lindos correndo porta adentro, as crianças sentaram a mesa, cada uma no seu lugar.
-Agora todos os meus convidados estão aqui, e formam 10, o número 10 é o Senhor esqueleto!
Estava na hora de comemorar o aniversário da vovó, quando o bolo chegou, todo acesso, a vovó apagou como um furacão! Quando a festinha acabou a vovó, beijou todos os netos, um, por um.
E então anunciou: - Estou pronta Senhor Esqueleto, mas puxa vida, aonde estava o Senhor esqueleto, vovó, só encontrou um bilheteque dizia:
"Querida vovó
Sua festa de aniversário foi um assombro! Eu nunca me diverti tanto! Não quero perder sua próxima festa por nada neste mundo. Sinceramente. Senhor Esqueleto"

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O vaso de ouro

 
 
Era uma vez, há muito tempo atrás, um sultão muito malvado. Seu coração era duro como pedra, não sentia pena de ninguém. Todos tinham medo dele, do mais humilde ao mais poderoso. E ele só tinha medo de uma coisa no mundo: de envelhecer! Todos os dias passava horas e horas sentado em suas almofadas, de espelho na mão. Ficava examinando o próprio rosto. Se via um cabelinho branco, na hora mandava tingir, se percebia uma ruga, passava creme e ficava massageando pra ver se a ruga desaparecia. Ele ahava que todo mundo o temia, porque era jovem e que se um dia ficasse velho, ninguém mais o obedeceria. E para que nada lembrasse a velhice, o sultão malvado ordenou que todos os velhos fossem mortos, só queria ver rostos jovens ao seu lado. Infeliz daqueles que os cabelos ficassem grisalhos, eram conduzidos em praça pública pelos guardas e dacapitados! De toda parte chegavam mulheres, crianças, mocinhas e rapazes, para implorar ao sultão que poupasse a vida de um marido ou de um pai. Mas o sultão era inflexível! Até que um dia, resolveu anunciar a todos: "Escutai todos, eu o generoso sultão, vou conceder uma graça, aquele que conseguir recuperar o vaso de ouro que caiu no fundo do lago, perto do palácio, terá como recompensa o perdão da vida de seu pai e poderá ficar com o vaso, tamanha é minha generosidade" - "mas quem não conseguir pegar o vaso, terá a própria cabeça cortada! e isso acontecerá todas as manhãs, essa é a minha vontade.
Rapidamente na manhã seguinte, havia muitos jovens, todos queriam recuperar o vaso de ouro. Os bons nadadores achavam a prova fácil, a margem do lago era alta e quem se debruçasse um pouco percebia com nitidez, no fundo da água clara e transparente, um maravilhoso vaso de ouro. Noventa e nove dias se passaram e noventa e nove mocinhos tiveram as cabeças cortadas. Nenhum deles conseguia chegar ao vaso de ouro. Havia um mocinho chamado Asker, que se deu conta que seu pai estava começando a envelhecer, quando os cabelos brancos começaram a se misturar aos negros, levou o pai as montanhas para escondê-lo e todos os dias levava comida e fazia sua visita. Quando soube na notícia, resolveu que tentaria, estava cansado de toda noite ir até a montanha e queria que o pai voltasse a ter uma vida normal. Começou então a pensar noite e dia no vaso do sultão e não conseguia entender porque quando se olha da margem, é possível enxergar o vaso com nitidez, que parece que é só estender a mão para pegá-lo e no entanto quando se mergulha, a água fica turva e o vaso desaparece. Sem dizer nada o velho escutava o filho falar, depois pensou, pensou e perguntou:
- Diga meu filho, por acaso não haveria uma árvore qualquer na margem, junto do lugar que avista o vaso?
- Sim meu pai - respondeu o jovem, bem na margem, há uma árvore muito grande, frondosa.
-Procure lembrar meu filho, a árvore reflete na água?
- Sim meu pai, a árvore reflete.
- E o vaso não é visível justamente no meio do reflexo da árvore?
- Sim, é no reflexo verde da árvore que se avista o vaso.
- Então ouça o que eu vou lhe dizer, suba na árvore e lá que o vaso está. O que você vê é o reflexo.
Rápido como uma flecha, o rapaz desceu a montanha e no dia seguinte, pela manhã, era o primeiro a tentar capturar o vaso de ouro.
- juro por minha cabeça que encontrarei o vaso - disse o moço
- dúvido! ria o sultão.
Asker foi ao beira do lago e sem hesitar um segundo, ao invés de se jogar na água, aproximou da árvore e subiu em seus troncos, chegou ao topo da árvore e pendurado entre as folhas, encontrou o vaso de ouro. O jovem trouxe o vaso para o sultão, que impressionado disse: - eu não tinha ideia de que era tão inteligente.
- Não, respondeu Asker, sozinho eu nunca teria tido essa ideia, mas tenho um velho pai, que escondi na montanha, foi ele que adivinhou onde estava o vaso.
- Ah foi isso! - disse o sultão, então seria o caso de crer que os idosos são mais inteligentes que os mais jovens, pois mesmo estando longe do lago, um velho encontrou o que cem rapazes não viram...
E desde aquela época, no pais daquele sultão, todo mundo passou a venerar os velhos e, quando passa um velho de cabelos brancos e pele enrugada, todos lhe dão lugar e fazem reverência profunda.

A menina e os botões

Não era dada a brincadeiras de rua, não porque sua mãe não deixava, mas porque o contato humano e infantil quase não lhe fazia falta. Havia coisas que não conseguia fazer e, uma delas era subir nas escadas do escorregador do parquinho. Ela tentava, subia até o segundo degrau, mas ao terceiro suas pernas tremiam e sentia muito medo. As crianças passavam por ela em maratona, subiam as escadas, sentavam e acomodavam o bumbum lá em cima e podiam ter aquela sensação de liberdade. Pelo menos era isso que ela pensava... liberdade. Tinha alguns que abriam os braços e escorregavam como se estivessem descendo do céu a Terra. Ela engolia seco aquela vontade e se sentia muito triste. Seus pais até que tentavam ajudá-la, mas ela não permitia ajuda. Aprendera desde cedo, a lidar com as pequenas frustrações.
Mas quando chegava em casa e pisava com seus pequenos pés no tapete azul que cobria toda a sala, ela se sentia bem, rapidamente buscava a sua caixa, sua caixa de sapatos, dentro havia várias caixinhas de fosfóros e, cada uma carregava um sobrenome. Dentro de cada uma, existia vida, existia uma família. A menina minuciosamente montava sem pressa a sua cidade. Os botões de paletó eram os homens distintos que saiam logo cedo para o trabalho, as mulheres no geral ficavam em casa, cuidando dos botões menores. Era uma incrível cidade habitada por botões. Alguns tinham uma vida cheia de prazeres... enormes casas, empregados, viagens, muito dinheiro. Outros aceitavam um trabalho modesto. Não havia igrejas, os casamentos eram feitos em lindos parques, as noivas eram botões encapados de branco. Eram lindas!
A menina passava horas com seus botões. A mãe dizia que nem parecia ter uma criança em casa. A menina tinha fixação por botões e ficou assim também com as roupas das visitas, quando alguém chegava, a primeira coisa a olhar eram os botões e com isso imaginava como seria bom tê-los. Algumas vezes, acontecia de um botão se perder... alguns também se perdiam embaixo do sofá... e alguns morriam: morte natural ou jogados no lixo, por cometerem atos que fossem contra as regras da cidade dos botões. Mas o dia mais feliz para a menina era quando saia às pressas e contornava o quarteirão, chegando a casa da costureira. Ela a entendia tão bem. Das mãos habilidosas da simples costureira abria-se novas vidas, pois ela entregava a menina um pequeno saco de cor parda, que tilintava um barulho tão conhecido que enchia a menina de alegria e curiosidade. Eram novos botões... alguns já vinham velhos, maltrapilhos e logo seriam pacientes para o Dr. Henrique no hospital dos botões. Os já muito gastos eram avós que chegavam de outra cidade, alguns eram levados a habitar um pequeno asilo. Os pequenos, eram sempre as crianças... peraltas de todas as cores. Os dourados eram mulherem ricas e no geral fúteis, pois viviam a arrumar os cabelos e fazer as unhas. A costureira numa dessas entregas sorria e dizia a menina: - semana que vem haverá mais, tenho muitas roupas para consertar e fazer. A menina agradecia e saia feliz nomear os novos habitantes. Certa vez, chegou um botão que era comandante, ele era muito galanteador e muitas mulheres douradas se engraçaram por ele. Voltou ao mar e nunca mais o viram. A menina suspeitava que ele havia sido engolido pelo grande monstro feroz, que algumas vezes avançava pela cidade, quebrando e levando vários moradores embora na sua boca salivante. Sempre pedia que a mãe  não deixasse Lady entrar em casa, era uma cadela sem modos e sempre provocava pânico entre os botões. O tempo foi passando e as idas a costureira continuaram, mas o número de botões fora diminuindo, muitas vezes a menina levava o saquinho pardo, mas por falta de interesse, nem abria, guardava na caixa de sapatos. Teve um dia que tomou coragem e disse que não precisava mais deles. Agora sentava na cadeira, e  folheava a revista da moda, tinha ideias e queria ficar linda em saias, blusas e nas grandes coisas que gostaria de vestir.