sábado, 2 de fevereiro de 2013

Somente vidas

Eu tenho um grande amor por algumas vidas...
Por aquela mulher  que superou o preconceito e as dúvidas e se casou com um ex travesti e drogado. A reportagem da TV atribui o mérito ao homem, mas vejo na mulher a figura da coragem e do amor verdadeiro.
E aquele pedreiro simples que carrega uma mulher estúpida na bicicleta.
E o velho de cabelos brancos que não soube dar valor a mulher que tinha e hoje ao ouvir o nome dela, seus olhos ficam marejados de arrependimento. 
A filha que perdeu a mãe e jamais esquecerá, mesmo tendo um marido e uma filhinha. 
A mulher quase perto dos 40 anos que ainda espera por um amor distante.
A menina que tem dúvidas quanto ao primeiro beijo e tenta simular a língua se movimentando através do espelho.
O homem com ovos de solitária na cabeça e coração despedaçado.
A vizinha velha que queria ter conhecido outros homens.
O homem que perdeu o irmão e nunca superou e entendeu por que as pessoas partem.
A senhora que antes lúcida, só pergunta agora: - Quem são vocês?
Ao homem que construiu a sua casa e agora dorme todas as noites mais tranquilo
Aquele que espera o resultado do concurso, da entrevista, da oportunidade.
A professora que nunca teve um namorado e hoje cria os sobrinhos.
Ao garoto que passa todos os dias na frente da casa da mulher, só pra vê-la chegar com seu lenço amarrado no pescoço.
Ao velho solitário que procura sexo pela internet.
A mãe adotiva que tem medo que a filha queira voltar ao orfanato para ficar com os irmãos.
A moça que compra sacolas recicláveis, mas não porque pensa na preservação, mas porque quer se preservar do contato com os homens.
Ao veterinário que quer ser piloto de avião.
A amiga que ama o amigo há mais de 5 anos, mas que ainda ajuda a comprar os presentes para a futura esposa.
A cachorra velha que foi abandonada porque não combinava com a nova casa.
A empregada que passa aquela blusa de seda da patroa e, que sempre teve vontade de experimentar.
A mãe que não se perdoa por ter gerado um filho deficiente.
Ao aposentando bissexual que escreve romances
A obesa triste que trabalha com as mãos.
A solteirona que se converteu a igreja de olho no moço de 40 anos.
Ao homem que procura até hoje pelo cheiro da namorada, após o bolero de Ravel.
A mulher que rasgou todas as fotos da sua única viagem ao exterior por conta do divórcio. 
Ao homem que não perdoou a traição da esposa.
A médica que perdeu um bebê e que morreu sem o perdão da mãe.
Ao moço estranho que só quer ser conhecido pela sua excentricidade.
A professora que se ruborizou com o elogio de um pai solteiro.
A secretária que todo dia passa pano com álcool na mesa do chefe, mas sonha ser uma grande chef de cozinha.
A menina que guarda o dinheiro para a primeira tatuagem, embora ela nem saiba o que tatuar.
A moça que cola borboletas na geladeira vazia.
o velho que nunca conheceu o mar
a casada que anseia por um jantar fora e um beijo de despedidas.
O moço que leu tanto e que se perdeu dentro de um livro.
E assim vão vivendo tantos
E quando morrem desaparecem
Para quem sabe um dia virarem estrelas no céu.


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