terça-feira, 9 de julho de 2013

A vida segue sem você




E a vida segue sem você... Olhar para a janela e ver o vazio. Que tristeza perene. Lembro quando você chegou em casa, dentro de um saco plástico, era uma pequena muda, que logo fixou suas pequenas raízes no solo de casa. Infelizmente por falta de espaço, você foi plantada na calçada, mas ficamos felizes, pois seria mais uma árvore frutífera para alegrar a vizinhança da vila. E você foi tão corajosa, segundo algumas pesquisas, você tinha tudo pra ter morrido nos primeiros meses e sequer dado nenhuma fruta. Mas generosa, cresceu e dava frutos, assim como a boa mãe amamenta os filhos. Bem verdade que eu nunca provei um fruto seu, não dava tempo. Os moleques da rua, ou lhe batiam com um pedaço de pau e derrubavam as frutas ainda verdes, ou subiam nos seus galhos fortes e comiam lá de cima, o fruto que amarrava na boca, assim como o gosto da banana verde. Nessas ocasiões, ficavam a espreita, ingerindo a fruta e espiavam minha cozinha. Viam muito pouco, pois tenho poucas coisas. Mas aquilo me irritava e logo eu abria as janelas e gritava, os moleques corriam assustados.
Mas eu nunca pediria a sua morte, pelo contrário, eu te defendia, tinha pena de você. Éramos vítimas de moleques de rua. 
Sabe o que eu gostava? 
De chegar em casa à tardezinha e ver suas folhas no chão, elas enfeitavam o quintal, lá elas ficavam amareladas, depois secavam. Também me surpreendia de ver como os insetos gostavam de você. O pouco tempo ganhava uma imensidão, quando eu pegava uma caneca de chá, depois de um dia cansativo e ficava a observar suas folhas, frutos e troncos que cresciam. Adorava quando a chuva te molhava, você bebia com voracidade a água que vinha do céu.
Sabe o que eu me lembro?
Que você foi testemunha de uma luta pra essa casinha pequena e modesta sair do alicerce e me abrigar hoje.    Você viu como fui ludibriada por tantos pedreiros, de como fiquei branca de passar massa corrida na casa toda e do tanto que ainda preciso fazer pra minha morada ficar mais "abrigável". Mas farei esse percurso sozinha, pois hoje você foi embora. De forma desastrosa, infeliz e julgo até maldosa. 
Eu me sinto culpada das tantas vezes que reclamei das crianças que me irritavam, isso favoreceu a sua morte. Mas se soubesse, nunca permitiria isso. Eu dormia, enquanto você morria. Não ouvi nem o barulho da primeira machadada. Quando acordei você não estava.
Como eu pude dormir e não perceber que você morria. Quantas vezes já fiz isso?
Se existe um céu para as árvores, eu espero que você esteja por lá agora. Imaginar que existe um lugar melhor pra quem só faz bem é o mínimo de consolo pra que eu continue acordando e vendo que você não me acompanha mais. 
Sinta como fiquei triste em perder você! 

Um comentário:

  1. Puxa, Tati, eu também tinha uma "arvore".... antes de morar nesta casa, toda cimentada, havia uma com quintal....tinha um pé de acerola, e eu adorava comer, fazer suco....era incrível, para todo o lado haviam mudinhas....parecia uma galinha abrigando os pintinhos embaixo das asas!

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