Que o amor morre não é novidade para ninguém, ele pode morrer por formas variadas, mas talvez a mais dolorosa é aquela que ele vai morrendo aos poucos, sofrendo, magoando e moribundo vai abrindo sinais:
o bilhetinho da geladeira é o primeiro que desaparece, você percebe que não há bilhete num determinado dia, após uma briguinha. Passa uma semana, duas, passa meses e ele desaparece por completo. A geladeira olha pra você, sabendo o que você tanto procura, mas só pode dizer um profundo pesar e carregar aqueles telefonemas odiosos da pizzaria, com aqueles cardápios tentadores para uma baixa auto estima.
Outra coisa que desaparece são o jantar a dois. Um sempre tem algo a fazer, ou na resposta mais dilacerante, já jantou qualquer coisa, antes de você preparar algo. Agradece gentilmente e sai da cozinha.
Desaparece também o beijo da boa noite, a cama se torna grande, muito maior que você imagina, parece haver um abismo entre as duas pessoas. E com certeza a dor mais profunda é a de chorar sozinha, apertando o travesseiro entre as mãos e engolir o choro, sufocando-o até não poder mais... então corre pelo banheiro e chora como nas cenas dos filmes.
Dormir em quarto separado já se encontra na segunda fase do desamor, você não suporta mais aquela cama gigantesca e fria e vai tentar a sorte no outro quarto. Você dorme sozinha, mas ouve o barulho da porta, ouve os passos e imagina que alguém por compaixão vai abrir a porta, mesmo que ligeiro, pra ver se você dorme bem e tranquila, como se fosse um último desejo de que sobrou algum carinho. Mas os passos seguem adiante e passam pelo quarto que você finge dormir.
Passado o mau estar de dias, as coisas que desaparecem e outras que perdem o valor, você cria forças pra então perguntar o obvio - o que está acontecendo? - E como não é surpresa, pois todos os fatos evidenciam, você descobre que mais um vez o amor morreu, faleceu, bateu as botas, foi pro beleléu...
Você acaba de ganhar mais um troféu do desamor, do amor que surgiu com o som dos passarinhos, mas que termina no silêncio total. Dada a essa hora, não há mais lágrimas pra derrubar. Não há mais o que fazer. Em alguns casos, as pessoas se jogam aos pés da outra, exigindo mais uma chance. Outras imploram e redigem uma lista de possíveis mudanças. Algumas também concordam que o desamor chegou e, que é bem melhor cada um seguir o seu caminho. Muitas vezes, fica na cabeça, aquele último diálogo. Ele foi o ponto crucial da sua decisão, por isso você o guarda e jura... chega a fazer juramentos que nunca vai amar de novo.
Mas pra algumas coisas, é para o amor isso é certo. Você não tem domínio, e logo, seu coração faz planos novamente. O desamor não te deixa mais experiente, ele te deixa mais realista que amores não duram para sempre.
Códigos do amor - século XII
- Quem não sabe calar, não sabe amar.
- O amor sempre pode aumentar ou diminuir
- Ninguém , sem haver uma razão mais que suficiente, deve ser privado do seu direito de amar
- Todo aquele que ama, empalidece ao ver a pessoa amada
- Um novo amor, expulsa o anterior
- O amor que se extingue rápido, raramente se reanima
- O amor verdadeiro só deseja carícias vindas de quem se ama
- Menos dorme e menos come quem abriga pensamentos de amor
- O amor nada pode recusar ao amor
Do Amor - Stendhal