sábado, 5 de outubro de 2013

A serra do Rola Moça




A Serra do Rola-Moça
A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não...

Eles eram do outro lado,
Vieram na vila casar.
E atravessaram a serra,
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo.

Antes que chegasse a noite
Se lembraram de voltar.
Disseram adeus pra todos
E se puserem de novo
Pelos atalhos da serra
Cada qual no seu cavalo.

Os dois estavam felizes,
Na altura tudo era paz.
Pelos caminhos estreitos
Ele na frente, ela atrás.
E riam. Como eles riam!
Riam até sem razão.

A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não.

As tribos rubras da tarde
Rapidamente fugiam
E apressadas se escondiam
Lá embaixo nos socavões,
Temendo a noite que vinha.

Porém os dois continuavam
Cada qual no seu cavalo,
E riam. Como eles riam!
E os risos também casavam
Com as risadas dos cascalhos,
Que pulando levianinhos
Da vereda se soltavam,
Buscando o despenhadeiro.

Ali, Fortuna inviolável!
O casco pisara em falso.
Dão noiva e cavalo um salto
Precipitados no abismo.
Nem o baque se escutou.
Faz um silêncio de morte,
Na altura tudo era paz ...
Chicoteado o seu cavalo,
No vão do despenhadeiro
O noivo se despenhou.

E a Serra do Rola-Moça
Rola-Moça se chamou.

Mário de Andrade
(1893-1945)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Canário



 Katherine Mansfield morreu muito jovem, com 34 anos de idade, viveu tão pouco, mas escreveu de forma tão intensa.  Esse é um dos contos que mais adoro. 



...
Você vê aquele grande prego à direita da porta da frente? Dificilmente olho para ele, mesmo agora, e até hoje não tive vontade de arrancá-lo. Gostaria de pensar que ele fosse permanecer ali, mesmo depois de mim. Às vezes imagino as pessoas no futuro a dizerem: "Deve ter havido uma gaiola pendurada ali." E isso conforta-me; sinto que ele não está inteiramente esquecido.

... Você não pode avaliar como era maravilhoso o seu canto: não .cantava como os outros canários. E isto não é apenas fantasia minha. De minha janela, eu costumava ver as pessoas pararem em frente ao portão, para ouvir melhor, ou encostarem-se na cerca perto da falsa-laranjeira, um bocado de tempo, emocionadas. Suponho que você vá achar isso um absurdo — não acharia se o tivesse ouvido cantar —, mas parecia, realmente, que ele cantava as canções completas, com começo e fim.

... Por exemplo: à tarde, quando eu terminava o serviço, mudava de blusa e trazia minha costura para a varanda, ele costumava pular de um poleiro para o outro, bater contra as grades da gaiola, como se fosse para atrair minha atenção, bebia um gole d'água, tal como o faria um cantor, e punha-se a executar uma canção tão afinada que eu tinha de largar a agulha para ouvi-lo. Não sou capaz de descrevê-lo; bem que gostaria. Era sempre igual, toda tarde, e eu sentia que compreendia cada nota emitida.

... Eu o amava. Como eu o amava! Talvez não importe muito que coisa amamos neste mundo. Mas devemos amar alguma coisa. É claro, eu tinha minha casinha e o jardim, mas, por algumas razões, não era o bastante. Flores são maravilhosas, mas não sabem demonstrar simpatia. Naquela ocasião eu amava a Estrela Dalva. Isto lhe parece uma tolice? Eu tinha o costume de ir para o jardim, depois do pôr-do-sol, e esperá-la até que brilhasse por cima do eucalipto escuro. Eu costumava murmurar: "Aí está você, minha querida." E exatamente nesse instante ela parecia brilhar só para mim. Ela parecia compreender isso... alguma coisa que é como um anseio, mas não é um anseio. Ou lamento — sim, é mais parecido com lamento. E, no entanto, lamento por quê? Eu tenho tantos motivos para ser grata!

... Mas depois que ele entrou em minha vida, esqueci a Estrela Dalva; não precisei mais dela. Mas foi estranho. Quando o chinês chegou à minha porta vendendo pássaros, ele, em sua pequena gaiola, em vez de se debater contra as grades, como aqueles pobres pintassilgos, soltou um trinado fraco e curto, e eu me vi dizendo, como havia dito para a estrela por cima do eucalipto: "Aí está você, meu querido." Desde aquele momento, ele foi meu.

... Até hoje me surpreendo, quando me lembro de como ele e eu partilhávamos nossas vidas. Na hora em que eu descia, pela manhã, e retirava a toalha que cobria sua gaiola, ele saudava-me com uma notinha sonolenta. Sentia que ele queria dizer: "Tia! Tia!" Então, pendurava a gaiola no prego do lado de fora, enquanto servia o café aos meus três rapazes, e nunca o levava de volta para dentro enquanto não tínhamos a casa só para nós dois. Depois, enquanto eu lavava a louça, era uma diversão completa. Eu abria um jornal sobre um canto da mesa e, logo depois que eu punha a gaiola sobre o jornal, ele costumava bater as asas desesperadamente, como se não soubesse o que ia acontecer. "Você é um perfeito ator", eu gostava de dizer-lhe com ar de zangada. Eu raspava o fundo da gaiola, espalhava areia em cima, renovava a água e o alpiste das latinhas, espetava um pedaço de couve e meia pimenta malagueta na grade. Tenho plena certeza de que ele compreendia e apreciava cada item dessa pequena operação. Sabe, ele era por natureza muito asseado. Nunca havia uma sujeira em seu poleiro. E era preciso ver como gostava de se banhar, para se perceber que ele tinha verdadeira paixão por limpeza. Sua banheira era colocada por último; no mesmo instante ele pulava nela. Primeiro batia uma asa, depois a outra; então, mergulhava a cabeça e umedecia as penas do peito. Gotas d'água espalhavam-se por toda a cozinha, mas ele ainda não queria parar. Eu costumava dizer-lhe: "Agora basta. Você está apenas se exibindo." E por fim ele pulava para fora e, de pé sobre uma das pernas, começava a se bicar para enxugar-se. Finalmente sacudia-se, dava uma pirueta, um gorjeio, levantava a cabeça e... Ah! como dói lembrar. Nessa hora eu estava sempre enxugando as facas e quase me convencia de que elas também cantavam quando eu as esfregava para brilharem em cima da tábua.

... Companhia! É isso, veja, isso é o que ele era. Uma companhia perfeita. Se você algum dia viveu só, compreenderá o quanto isto é precioso. É verdade que havia meus três rapazes, que chegavam para o jantar todas as tardes e algumas vezes ficavam na sala, lendo o jornal. Mas eu não podia esperar que eles se interessassem pelas pequenas coisas corriqueiras do meu dia-a-dia. Por que se interessariam? Eu nada era para eles. Na verdade, eu os ouvira certa vez na escada referindo-se a mim como "O espantalho". Não importa. Não tem importância. Eu entendo muito bem. Eles são jovens. Por que haveria eu de ficar ressentida? Mas lembro-me de me sentir grata por não estar inteiramente só, naquela noite. Eu lhe disse, depois que os rapazes tinham ido embora. Eu lhe disse: "Você sabe de que nome eles chamam a Tia?" E ele deixou cair a cabeça para um lado e olhou-me com seu olhinho brilhante até que eu não pude conter o riso. Aquilo pareceu diverti-lo.

... Você já criou pássaros? Se não, tudo isto vai talvez parecer-lhe exagerado. As pessoas têm idéia de que os pássaros são seres sem coração, pequenas criaturas frias, ao contrário de cães e gatos: Minha lavadeira costumava dizer, nas segundas-feiras, quando queria saber por que eu não criava "um bonito fox-terrier": "Ter um canário não traz conforto, senhora." Não é verdade. É um grande engano. Lembro-me de uma noite. Eu tinha tido um sonho horrível — os sonhos podem ser muito cruéis — do qual, mesmo depois de acordada, não podia livrar-me. Então, vesti minha camisola e desci à cozinha, para tomar um copo d'água. Era uma noite de inverno e chovia forte. Acho que eu estava ainda meio adormecida. Pela janela da cozinha, que não tinha veneziana, a escuridão parecia estar olhando fixamente para dentro, espionando. E de repente senti que era insuportável não ter alguém a quem pudesse dizer: "Tive um sonho tão horrível" — ou "Defenda-me da escuridão." Até mesmo cobri meu rosto, por um momento. Então veio o agradável som "Psiu! Psiu!" A gaiola estava em cima da mesa, e o pano que a cobria havia escorregado, deixando uma fenda, por onde entrava um raio de luz. "Psiu, psiu!" — disse o encantador bichinho outra vez, docemente, como para dizer "Estou aqui, Tia! Estou aqui!" Aquilo soou tão agradável e confortante para mim, que quase chorei.

... E agora ele se foi. Nunca mais terei um outro pássaro, nem qualquer outro animal de estimação. Como poderia ter? Quando o encontrei, deitado de costas, os olhos turvos, as patinhas retorcidas, quando percebi que nunca mais ouviria seu canto tão querido, alguma coisa pareceu morrer em mim. Meu coração ficou vazio, como se fosse a gaiola dele. Eu hei de superar isso. É claro. Preciso fazê-lo. Com o tempo as pessoas se recuperam de qualquer coisa. Dizem que eu sempre estou bem-disposta, e têm razão. Graças a Deus, estou.

... Contudo, sem ser mórbida e mexendo nas lembranças, devo confessar que vejo nisto alguma coisa de triste na vida. Não me refiro à tristeza que todos nós conhecemos, como a doença, a pobreza e a morte. Não, é algo diferente. É lá no fundo, bem no fundo, faz parte da gente, como a respiração. Por mais que trabalhe, por mais que me canse, basta parar para sentir que essa coisa está lá, esperando. Muitas vezes eu me pergunto se todo mundo sente do mesmo jeito. Nunca se pode saber. Mas não é extraordinário que dentro de seu canto alegre, doce, tudo o que eu ouvia era: tristeza? ah, o que é isto?


                                                                                                                             Katherine Mansfield
 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Coração de macaco



Há muito tempo atrás, lá na África, vivia uma velha tartaruga que teve um sonho estranho e maravilhoso, com uma árvore mágica que dava todas as frutas que havia no mundo. Ela contou o sonho aos amigos e todos saíram a procura do lugar secreto em que ficava a tal árvore.
A tartaruga foi na frente, depois foi o leão e atrás deles, o hipopótamo, a girafa, o elefante, o macaco, a zebra, a hiena e a gazela.
Procuraram por todo lado, até que acharam o lugar secreto, onde estava a árvore. Era a coisa mais linda que os animais já tinham visto, uma árvore com todas as frutas do mundo. A tartaruga pronunciou a palavra mágica para as frutas descerem até eles e todos comeram até se fartar. Estavam prestes a voltar para casa, quando a tartaruga declarou:
- cada um de nós vai ter que levar uma semente diferente para plantar, de modo que no mundo todo haja árvores de todos os tipos.
E foi exatamente isso que os animais fizeram.
O macaco pegou uma semente de manga e a plantou em seu lugar preferido, à beira do rio. A mangueira cresceu e passou a produzir mangas docinhas e deliciosas. O macaco foi morar naquela árvore para comer aquelas mangas suculentas e como ele era bom e generoso, compartilhava as frutas com os outros animais da floresta. Todos os dias, seus amigos vinham rodear a mangueira: o leão, o hipopótamo, a zebra, a girafa, a tartaruga e muitos outros. Ficavam conversando e brincando, enquanto comiam as frutas.
Um dia, um crocodilo veio nadando rio acima e, ao ver os animais em volta da mangueira, parou a uma certa distância para ver o que estava acontecendo. O macaco deu com o crocodilo, que ele nunca havia visto antes, e convidou-o para saborear as mangas deliciosas.
-Aceita uma manga?
-Nunca experimentei - falou o crocodilo.
- Pegue! gritou o macaco
O crocodilo comeu a manga e disse:
- Que delícia macaco, obrigado
Então o macaco foi jogando para baixo mais e mais mangas. Depois disso, todos os dias, o crocodilo ia visitar o macaco, e eles até se tornaram amigos.
Certo dia, eles estavam conversando sobre isso ou aquilo, quando o crocodilo mencionou que morava com um grupo de crocodilos e que tinha um chefe muito importante e inteligente. O macaco disse: 
-Você devia ter me falado antes desse seu chefe, para eu mandar uma mangas deliciosas de presente para ele.
O crocodilo achou que de fato, o chefe ia gostar muito de experimentar a manga. Então o macaco colheu um monte de mangas e jogou-as dentro da boca do crocodilo. O crocodilo nadou de volta para casa, com a boca cheia de mangas, e dividiu as frutas entre o chefe e os outros crocodilos do grupo. Então também contou sobre seu amigo macaco.
O chefe gostou muito das mangas e pediu para o crocodilo trazer mais. O crocodilo prometeu que traria mais mangas sempre que fosse visitar o macaco.
Depois de um tempo, o chefe pensou:
-Se o macaco come essas mangas tão deliciosas todos os dias, o próprio macaco deve dar um jantar maravilhoso!
Ah! Se eu pudesse fazer o macaco ir até lá. Mas o chefe sabia que o crocodilo gostava muito de seu amigo e, por isso seria dificil jantar o macaco. Então ele teve uma ideia brilhante.
Quando o crocodilo voltou de sua visita, o chefe se deitou no fundo do riu e fingiu que estava muito doente. O crocodilo nadou até onde ele estava e perguntou preocupado:
- O que aconteceu chefe?
- Estou muito doente, respondeu o chefe. O curandeiro disse que só um coração de macaco é capaz de me curar. Se você não me trouxer um coração de macaco, com certeza vou morrer.
O crocodilo ficou sem saber o que fazer? Onde iria encontrar um coração de macaco? Macaco era bicho difícil de pegar. De repente ele se lembrou do seu amigo, muito triste pensou:
- Ai, o que eu faço? Eu adoro aquele macaquinho, ele é meu melhor amigo. mas também adoro o meu chefe, meu grande líder,e ele vai morrer se não comer o coração de macaco.
O pobre crocodilo andava em círculos, tentando decidir o que fazer. Finalmente decidiu que o chefe era mais importante e foi buscar o macaco.
Na manhã seguinte, ele foi, pensando em um plano.
O macaco ficou muito feliz em rever seu amigo. Mas o crocodilo foi logo colocando o plano em ação:
- Macaco - ele disse - ultimamente você tem sido muito bom pra mim, oferecendo essas frutas para o meu grupo. Gostaria de retribuir a gentileza e convidá-lo para ir até a minha casa, conhecer o meu chefe.
O macaco respondeu:
- É muita gentileza sua, eu também gostaria de conhecer o seu chefe e seu grupo, mas como posso ir até lá? Vocês moram na água, eu morreria afogado se tentasse chegar até à sua casa, eu não sei nadar.
- Isso se resolve - respondeu o crocodilo, suba nas minhas costas, que eu carrego você até lá.
O macaco aceitou, estava feliz por ter um amigo tão bom, pulou do alto da mangueira nas costas do crocodilo. E o crocodilo saiu nadando, levando o macaco. Ao chegar no meio do rio, o crocodilo foi afundando, afundando, cada vez mais. Achou que seria bom, afogar o macaco antes de chegarem em casa.
E assim, eles foram afundando na água. O macaco gritou:
- Estou me molhando, por favor crocodilo não me afunde mais.
o crocodilo não disse nada e foi afundando, afundando. O macaco percebeu que alguma coisa estava errada e gritou: -O que você está fazendo? Se afundar mais eu vou me afogar.
O crocodilo respondeu:
- Meu caro amigo, não posso esconder a verdade de você. Meu chefe está muito doente e se não comer coração de macaco vai morrer.
O macaco ficou apavorado, mordeu o lábio para não gritar, precisava pensar em algum modo de se salvar.
Finalmente disse com muita calma:
- Ora amigo, por que não disse antes, que precisava do meu coração para salvar seu chefe? Eu o teria trazido comigo
- O quê? Você não trouxe o seu coração? perguntou o crocodilo surpreso.
- Não! disse o macaco, quando saio, sempre deixo o coração na mangueira, vamos voltar depressa para buscá-lo.
Rapidamente, o crocodilo fez meia volta e nadou até a mangueira, o macaco pulou na árvore em segurança e lá de cima, ele gritou:
- Crocodilo bobo! Então você não sabe que os macacos carregam o coração no peito igual a todo mundo?
E o macaco ria, ria...
- Volte para o seu lugar, nossa amizade acabou
O crocodilo foi descendo o rio, muito envergonhado, verteu uma grande lágrima de crocodilo ao perceber a bobagem que tinha feito e ainda tinha perdido seu melhor amigo.
E dizem que até hoje, o crocodilo chora de arrependimento.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

fuga ou um simples inseto


Foi difícil para ela tomar essa decisão, pensava nas meninas, ainda pequenas e, no que poderia acontecer com elas, mas tudo era melhor do que continuar na humilhação daquela vida de barata. Não aguentava mais as agressões, os gritos e a sensação de solidão. Esperou que ele adormecesse e tirou as meninas da cama, ainda sonolentas, não entendiam pra onde iam e, ela não tinha ideia, de qual caminho tomar. Atravessaram a casa, uma rua que significava um grande perigo e enfim, encontraram um buraco. Meteram-se lá dentro mãe e filhas, andaram e chegaram a um local todo iluminado e branco, avistaram, grandes peixes, vários produtos, um cheiro insuportável de sabonete, não queriam ficar ali, estavam só de passagem. Mas bastou um grito, uma palavra horrível e logo, a mulher gigante voltou detentora do poder de ter nas mãos, um frasco de inseticida. E como ela usou sem dó, as meninas nem conseguiram se mover, vi as duas morrendo na minha frente. Não pude ao menos, protegê-las, meus olhos cegaram, e não vi mais nada.

Ainda de manhã:
- Mãe se me faz um favor, tira aquela barata horrível do banheiro.

Na hora do almoço, após escovar os dentes:
- Mãe, estou penalizada, junto da barata, havia mais duas baratinhas, pareciam filhinhas, acho que fugiam...
- Viu o que você fez, você matou a mãe e as filhas, quem vê a gente criando estas histórias, acha que somos malucas.


segunda-feira, 16 de setembro de 2013


A princesa calada

     Era uma vez um rei muito poderoso, mas muito triste. Sua filha desde que nascera, não pronunciava nem uma palavra, nem mesmo sorria.
     Quando chegou a idade de se casar, o rei ofereceu a mão da princesa, aquele que a conseguisse falar, ou ao menos sorrir, fosse ele um nobre ou um simples camponês.
     O primeiro que apareceu foi um príncipe com suas ricas joias e vestimentas, contou sobre seu reino, seu povo... Mas a princesa, a princesa nem se animou.
     O segundo que tentou conquistar o coração da princesa, foi um guerreiro que lhe contou sobre suas batalhas, vitórias e inimigos, mas a princesa... Ah... A princesa nem se animou.
     O terceiro foi um mercador, que contou sobre suas viagens aos quatro cantos do mundo, mas a princesa... Ah... A princesa nem se animou.
     E assim, muitos pretendentes passaram, mas a princesa não se animava com nenhum.
     Não tão longe dali, na floresta, um simples camponês que passeava pela floresta, pensou consigo mesmo - Ora eu não tenho nem mais e nem menos, vou-me apresentar à princesa calada.
     E no caminho, o camponês encontrou uma velhinha, carregando um pesado fardo de lenha. O camponês com dó e querendo ser gentil, levou toda a lenha até a casa da senhora, que muito agradecida, perguntou pra onde o moço ia?
     - Vou ver a princesa calada - respondeu o camponês.
     Ah! eu sei da história dela, há muitos anos atrás, a princesa veio ao mundo sob a forma de uma lagarta, dessas inofensivas. Um dia estava tomando sol, com seu companheiro, quando ouviu gritos de mulheres, que aterrorizadas pisotearam em seu companheiro. Dias depois ela morreu de tristeza.
     Muitos anos depois, a princesa voltou, agora sob a forma de uma andorinha, que voava livre e feliz, construíra junto do companheiro um belo ninho, numa frondosa árvore, porém, numa bela manhã, um grupo de meninos por pura maldade, apedrejaram o ninho, matando seu companheiro. A andorinha de tristeza, morreu dias depois.
     Depois de mais alguns anos, a princesa renasceu, agora sob a forma de uma lebre, saltitante com seu companheiro pela floresta, mas a ambição dos homens fez que ateassem fogo na floresta e seu companheiro, morreu queimado. A lebre conseguiu fugir, mas morreu dias depois de tristeza.
     O tempo passou mais uma vez, e a princesa renasceu desta vez sob a forma de mulher, sendo hoje a filha do rei, a princesa que nada diz, porque lembra de todas as maldades dos homens.
     Mas a velhinha mal terminou de dizer as últimas palavras, o moço saiu correndo rumo ao palácio, chegando lá, ajoelhou-se diante da princesa e disse:
     - Princesa, estou aqui, porque me lembrei que fui um lagarto pisoteado pelo medo dos homens.
     - Princesa, estou aqui, porque me lembrei que fui uma andorinha, apedrejada pela crueldade dos homens.
     - Princesa, estou aqui, porque me lembrei que fui uma lebre queimada, pela ganância dos homens.
     - E estou aqui hoje, Princesa, porque hoje sou um homem e tenho uma nova chance de ser feliz.
     A princesa, então abriu um sorriso e disse:
     - Ah! Era você que eu tanto esperava.
     E eles se casaram e são felizes até hoje.

     Gosto de contar esta história, porque muitas vezes, nos sentimos como lagartas, andorinhas ou lebres, diante as mazelas e maldades humanas, mas sempre temos a chance de sermos felizes novamente.





segunda-feira, 2 de setembro de 2013

venha




Noticia que deixa chocada
você tem prazo,
como prazo de validade
como uma caixa de ovos

Eu sempre disse NÃO,
mas no fundo, sempre quis o SIM
Penso que posso conhecer
algo que a humanidade fala
que é o verdadeiro amor.

Se você vier,
Será bem vindo.

domingo, 1 de setembro de 2013

Dorinha



Mesmo sem pedir permissão, quero escrever sobre essa mulher que conheci há poucos meses, mas que fez uma grande diferença na minha vida de mulher. 
Mulher sem preconceitos, mulher experiente, vivida e calejada pelas mazelas da vida. Teve filhos, um infelizmente perdeu em consequências trágicas, os outros estão por aí, permeando a vida dela, sem muita presença. Teve a perda do companheiro, teve dores e doenças. Mas nada disso a deixa de ser menina!
Ela gosta de músicas antigas e, canta tão bem, tem a voz doce.
Seus olhos castanhos, ficam marejados ao ouvir um elogio, por mais bobo que o seja.
Mente a idade, como toda boa mulher,  mas pra mim, ela não tem idade.
Uma menina, que sorri e ri da vida, independente se o dia esteja nublado ou com sol.
Que come, as guloseimas como quem experimenta pela primeira vez, se lambuza e ainda pedi bis.
Uma mãe,  uma avó sábia que todos gostariam de ter ao lado,  ou contando histórias, ou dando conselhos, ou aferindo a febre, ou trazendo um consolo nos braços.
O que ela quer... é somente ser feliz
Ser amada nas pequenas e singelas oportunidades da vida. 

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver 
E a primeira estrela que vier 
Para enfeitar a noite do meu bem 
Hoje eu quero a paz de criança dormindo 
E o abandono de flores se abrindo 
Para enfeitar a noite do meu bem 
Quero a alegria de um barco voltando 
Quero a ternura de mãos se encontrando 
Para enfeitar a noite do meu bem 
Ah! eu quero o amor o amor mais profundo 
Eu quero toda beleza do mundo 
Para enfeitar a noite do meu bem 
Ah! como este bem demorou a chegar 
Eu já nem sei se terei no olhar 
Toda ternura que eu quero lhe dar. 
Dolores Duran